domingo, 1 de agosto de 2010

Henrici oder Picander

O terceiro personagem nesse percurso é o popular Picander, pseudônimo de Christian Friedrich Henrici (14 de janeiro de 1700 - 10 de maio de 1764), um "poeta esfomeado", que passou muito tempo tentando ganhar a vida com poemas de ocasião e sátiras rimadas (mulheres eram um dos seus alvos preferenciais...). Depois de alguns conflitos com as autoridades em Leipzig, começou uma carreira de poeta sacro, justamente quando Bach chegava à cidade.

Quinze anos mais novo, sem maiores pretensões autorais e com boa experiência em poesia profana (talvez seja o "melhor poeta" entre os libretistas de Bach), era o instrumento perfeito para a produção de textos sob encomenda e não se deve esquecer que recebia uma percentagem dos folhetos vendidos no dia da execução da cantata.

Produzindo sob orientação direta, Picander se transforma também no libretista das peças profanas, mantendo uma longa colaboração artística com Bach, enquanto subia na sua carreira de funcionário municipal, dos correios até a posição de fiscal de impostos. Casou duas vezes, mas não teve filhos.

Das primeiras cantatas até a Cantata do Camponês (1742), são quase vinte anos de colaboração e muita gente acha estranho essa longa relação entre o antigo bandalho, "debochado" nos termos da época, e o Kantor de São Tomás. A primeira mulher de Picander foi madrinha de uma das filhas do Mestre. O fato, contudo, se alinha com a frase de Jesus: não vim salvar os justos, mas os pecadores. A fronteira social entre o maroto poeta e o sério kantor é mais visível para nós do que para eles. Por sinal, o último ciclo anual de cantatas de Picander é explicitamente dedicada a J.S. Bach.

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