Estando assentado que o propósito da música é produzir emoções, Palisca examina as diversas teorias que buscavam explicar como esse efeito era produzido. No capítulo 10, ele mostra, uma vez mais, que filósofos e músicos foram buscar suas idéias na ciência da época. Deficiente, naturalmente, mas cujos fundamentos eram, ao menos, razoáveis.
O ponto de partida era Aristóteles e suas teorias da catarse, mas prosseguia com as reflexões de Descartes sobre a relação entre as paixões e a alma. Perguntas inevitáveis vêm à mente:
1. Investiram em teorias malucas sobre as origens das emoções humanas? Não, desde Descartes, as emoções são consideradas "afecções" da vida corpórea, que podem ser devidamente conhecidas e administradas pela parte racional da alma;
2. Apostaram em alguma teoria irracionalista para explicar a razão da influência da música sobre a emoção? Não, Kircher, por exemplo, afirmava que as paixões são o produto do equilíbrio de humores, que mantêm entre si uma relação matemática. A música, que também é matemática, pode alterar ou restaurar esse equlíbrio;
Pode-se argumentar que as teorias científicas do século XVII, nesse caso, são elementares e não experimentais, mas ao menos quem pensava sobre música buscava elementos na ciência e elaboravam teorias racionalistas sobre o funcionamento da mente.
A criação artística, portanto, é uma elaboração racional de instrumentos para a mobilização de paixões humanas, perfeitamente conhecíveis e organizáveis. Não tinham como saber, naturalmente, que são o resultado de adaptações evolucionárias, trivialmente codificadas quimicamente no cérebro, mas estavam na pista certa.
Era perfeitamente possível, portanto, elaborar os catálogos de "afetos" e seus correspondentes musicais. Música era uma linguagem, tão objetiva quanto qualquer outra. Ainda na década de 1750, d'Alembert (sim, naquele tempo quem escrevia sobre música eram matemáticos e filósofos; hoje em dia...) afirmava: "Toda música que nada pinta é apenas barulho. Não dá mais prazer que uma série de palavras harmoniosas e sonoras despidas de ordem ou conexão".
Será preciso esperar o final do século para ler um textos, por exemplo, de Michel-Paul de Chabanon, que a música "não imita nada". Começava o reino dos passarinhos...
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