domingo, 25 de julho de 2010

Salomon Franck

Em Weimar, Bach tem a oportunidade de travar uma relação direta com um poeta envolvido na transformação da cantata alemã na cantata madrigalesca: Salomo Franck (6 de março de 1659 – 11 de julho de 1725). Além disso, Franck, pela sua formação e história pessoal, era um artista bem mais sensível aos temas pietistas, como a ternura pessoal por Jesus, a contemplação da morte, etc. Tagliavini sugere outro aspecto importante: como a transição na obra de Franck se consuma justamente em Weimar e provável que tenha sido as próprias demandas de Bach que o levaram a adotar o modelo Neumeister.

Se for isso verdade, não apenas a cantata bachiana está na "vanguarda" da adoção da nova forma poética-musical, como ele mesmo é um instrumento dessa transformação, demandando textos com um formato específico. Ou seja, seria mais um desmentido documentado da habitual afirmação de que Bach simplesmente "aceita formas anteriores", é um "artista conservador" e outras formas de mitologia musicológica romântica, sem maior informação histórica. Bach, que ao mesmo tempo está promovendo a introdução dos modelos vivaldianos do concerto nos meios culturais alemães, está, com seu trabalho junto a poetas importantes, também alterando a configuração da poesia alemã.

Tagliavini sustenta ainda que Franck oferece a Bach um modelo estético que permite conciliar a ortodoxia doutrinária luterana com os temas pietistas, trabalhando naquele território complicado entre religião oficial, movimentos de reforma religiosa, aceitação da arte secular na liturgia, etc. Dos grandes libretistas de Bach, Franck seria aquele com maior afinidade espiritual com o Mestre, ressaltada pelo tratamento similar que ambos dão ao tema da morte como salvação*. Por sinal, ambos tiveram uma vida marcada por eventos trágicos.

* recomendo o texto de Spitta sobre BWV 31. Uma obra prima literária-teológica.

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