terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Segundo "Horizonte". Bach como cristão

Neste ensaio, Geck não é tão feliz como no anterior, em termos literários, mas traz elementos para seu alinhamento incondicional com a tese do Mestre como homem de genuina fé luterana.

O primeiro e mais óbvio é sua biblioteca de mais de 100 volumes, extensa e cara para os padrões da época. Ainda em 1742, quando sua carreira como música da Igreja estava tecnicamente parada, está comprando livros de Lutero e comentários bíblicos. Por uma sensacional coincidência, os comentários de Calov, no exemplar do Mestre, foi encontrado em um seminário nos Estados Unidos, com seus comentários à margem.

O segundo é a articulação de Pietismo e Luteranismo. A princípio, essa articulação poderia parecer não exatamente ortodoxa, mas o Pietismo, nos tempos de Bach, é sintoma de uma religiosidade ativa, viva, um equivalente do movimento carismático dos dias de hoje. Mutatis mutandis, naturalmente. Curiosamente, quem ressalta esse ponto é nada mais nada menos que Nietzsche (Humano, demasiado Humano, parágrafo 219):

"Sem esta mudança sentimental profunda e religiosa, sem o som que se esvai de uma alma agitada em seu interior, a música teria continuado ilustrada ou operática".

Completando, Nietzsche afirma: "Tal é nossa dívida com a vida religiosa".

[O trecho do Êxodo comentado por Bach: "Então Miriã, a profetisa, irmã de Arão, tomou na mão um tamboril, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris, e com danças. " (Êxodo 15:20)]

Ele anota devidamente que há "dois coros", o dos homens, conduzido por Moisés, e o das mulheres, por Miriam, com "tambores e danças". Ele via a polifonia vocal com precisão, fundamentada no Espírito.

Outro testemunho documental da fé pessoal do Mestre é uma descoberta recente - uma anotação sua no álbum pessoal de Johann Gottfried Fulde, um estudante de teologia e membro da sociedade de concertos de Leipzig. Ao pé de um cânon (hoje, o BWV 1077), ele escreve a Fulde: "Cristo há de coroar os que portam a Cruz". Em latim, fica melhor: Christus coronabit Crucigeros, uma mensagem musicalmente inscrita no cânon.

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