domingo, 30 de janeiro de 2011

O pensamento como fuga

Como de hábito, o capítulo 10, é um capítulo de fundamentação e trata de programas de computador. Como o livro foi editado em 1979, pode-se fazer idéia do seu grau de elaboração. Ainda assim, alguns elementos continuam sendo relevantes e interessantes:

1. Mesmo naqueles dias parecia claro que os procedimentos da inteligência não são o mero resultado da soma de operações elementares, mas da integração de vários operações diferentes. Oferece o exemplo dos grandes jogadores de xadrez, que conseguem ver à frente as melhores respostas estratégicas de forma automática. Esta pode ser a mesma habilidade de um grande compositor. Ele intui de forma automática as implicações do desenho de uma melodia. Uma habilidade descrita, no caso de Bach, por seu filho C.P.E.

2. Outro ponto importante de sua análise das implicações de uma inteligência artificial é a distinção entre sistemas "quase decomponíveis" (um time de futebol, um átomo, etc) que só existem em conjunto, mas podem ser discernidos de sistemas quase indecomponíveis, como quarks em uma partícula ou... notas em um acorde. A distinção entre esses sistemas é que permitiria "pensar em pedaços", uma vez que separa níveis de organização diferentes, com suas próprias regras. Essa separação é aquele que haveria entre cérebro e mente ou entre a música que ouvimos e a estrutura física que a produz. Nesse ponto, as analogias do Hofstadter começam a ficar bachianamente interessantes.

O conceito usado para produzir a idéia de um sistema que é resultado da integração total e ao mesmo é cada uma de suas partes é justamente o de Fuga. Que tem uma vantagem ilustrativa adicional: não basta, para um fuga, seguir as regras, ela tem de produzir um efeito não visível nos elementos que a compõe: a beleza sonora. Ele começa a sugerir que o pensamento é a "fuga" do cérebro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário