domingo, 18 de julho de 2010

Criatividade barroca sem o controle da razão

Os três elementos do Ricercare a 3 são justamente os três elementos facilmente visíveis na comparação com a função y= ln(x)*10. Ele é uma espécie de Bach em estado original, criatividade barroca sem os controles da razão.

A chamada Primeira Seção (compassos 1-37) vai expondo normalmente as três partes com as entradas na ordem habitual tônica-dominante-tônica e em ordem descendente. Um motivo "d" em staccato é introduzido para realizar o contraponto com o tema. A primeira seção, portanto, apenas "abre os trabalhos".

A Segunda Seção (compassos 38-86) inclui também três entradas do sujeito, mas agora em ordem ascendente, na sequência dominante-tonica-subdominante e mais espaçadas. O próprio Tema Real aparece disfarçado na primeira entrada. A segunda entrada também simula episódios que não realiza. A terceira entrada termina com uma "falsa cadência". A elaboração já se mostra bem mais complexa e termina com uma recapitulação das transições imediatamente anteriores.

Aí a Terceira Seção (87-140) anuncia vai ampliar a recapitulação para alcançar as formas expostas na primeira parte da Segunda Seção, mas ele introduz a chamada "fantasia" (105-128), que inclui imitações na oitava, modulação, o sujeito "a" em diminuição, sequência cromática no baixo e o retorno do motivo cromático em imitação na oitava.

Ou seja, Bach inclui todo um trecho destoante da estrutura quadripartite e fora do centro de simetria da peça. É como se a mera insinuação de uma recapitulação não bastasse e a imaginação se libertasse, mesmo dentro da mais estrita organização. Por fim, a fuga então retorna ao seu padrão normal, depois da fantasia, e os vários episódios agora incorporam "reminiscências" (é como as chama David) da mesma.

A Quarta e última Seção (141-185) traz as três entradas do sujeito na mesma ordem da primeira seção, mas separadas como na segunda seção. Todas três com o mesmo par de contrapontos. Assim, certas conexões entre a segunda e a quarta seção suplementam as relações mais fortes entre as seções 2 e 3 e entre 1 e 4.

O prodígio barroco vai não apenas promovendo e ampliando as conexões entre suas várias partes (ou seja, dissolvendo suas próprias identidades), mas incorporando a "fantasia", que nada tinha a ver com o plano sugerido pela exposição da obra.




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