sábado, 24 de julho de 2010

Duas notas adicionais

1. É claro que a hierarquia via o assunto com suspeita e as correntes calvinistas e pietistas condenavam a novidade. Neumeister polemizou com ambos por anos e anos, às vezes com violência. O argumento em defesa da música instrumental vinha da própria Bíblia, em linhas muito similares às anotações de Bach na Bíblia de Calov;

2. Bitter, esse biógrafo de Bach "recém-descoberto", levanta, inclusive, uma conexão surpreendente: Lorenz Mizler, em correspondência com Neumeister, defende mesmo uma organização formal das partes da Cantata. Bitter suspeita que é João Sebastão que está por trás da "forma" sugerida.
Há aqui uma consequência interessante. O formato "pessoal" da cantata bachiana vem diretamente da literatura profana: o madrigal italiano e as técnicas operísticas. Neumeister, um sujeito cuja religiosidade está acima de qualquer suspeita, tomou esse modelo de empréstimo e trouxe para a cultura religiosa alemã uma modo "individual" de expressão poética.

Sigo achando o capítulo do Tagliavini sobre Neumeister um excelente moderador de conceitos. Principalmente, o malsinado "inovador". Afinal, Neumeister introduz na literatura alemã algo que não existia e  permite a inversão da prática histórica sobre a relação entre música e texto. Antes, a música seguia o texto; agora, o texto pode ser moldado à música. Também altera as fronteiras entre poesia sacra e profana.

Em suma, Neumeister é "revolucionário" para usar o blá-blá-blá moderno sobre arte. Em que livro de história se lê tal coisa? Em que livro se lê que João Sebastião, compondo a BWV 61, está na vanguarda (sic) da música e da literatura alemã??

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