sábado, 3 de julho de 2010

Da ubiquidade

O que estamos realmente ouvindo quando ouvimos um cânone da Oferenda? Muito do seu sentido musical não é determinado apenas por sua própria estrutura, mas por suas relações com os demais cânones e também com a sonata e também com os ricercares. A melodia material, a sequência de sons que atinge nossos ouvidos, é apenas o primeiro elemento do processo de compreensão da pergunta: o que é a Oferenda?

Uma resposta precisa levar em conta alguns fatos importantes:

1. O tema da Arte da Fuga é do compositor; o tema das Goldberg, também; o tema das Variações Canônicas, é um coral de Natal. O tema da Oferenda não é tradicional, nem autoral, veio de Fred II ou de C.P.E ou de ninguém - foi inventado. A "autoria" da melodia, portanto, é irrelevante para a obra construída;

2. As Variações Goldberg e as Variações Canônicas são compostas para um instrumento; a Arte da Fuga também. A Oferenda embute uma Sonata e não tem uma instrumentação determinada;

3. As Variações Goldberg são o fruto de uma encomenda; as Canônicas, são uma peça para colegas músicos; a Arte da Fuga também foi composta para uma comunidade de especialistas. A Oferenda tem um só destinatário, mas ele não encomendou a obra;

4. Ela começa com uma peça (o Ricercare a 3) que é objeto de uma improvisação e termina com o Ricercare a 6 que é o fruto da reflexão. Se olhamos com atenção, todos os procedimentos composicionais estão espalhados pela Oferenda: improvisão, reflexão, solo, conjunto, fuga e música galante, etc... O Tema Régio está em "todos os lugares da música", aparece no mais seco cânone e no mais charmoso adágio, inteiro ou em pedaços, como cantus firmus ou como parte do contraponto.

O que está em "todos os lugares"?



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