domingo, 4 de julho de 2010

Duas explicações

H.T. David percebe, obviamente, a natureza complexa da Oferenda e oferece uma explicação trivial e outra bem mais interessante.

Do ponto de vista da mera trajetória criativa, ele considera a Oferenda uma peça complementar da obra publicada de Bach, ou seja, "mais um" Clavier-Ubung que, nesse caso, se estende para uma peça instrumental. Em favor de David deve ser dito que mesmo ele percebe a contradição dessa classificação: como poder ser "mais um" Clavier-Ubung se envolve uma peça de câmara?

Quando inverte seu foco é que oferece uma análise interessante. Tomando como ponto de partida a idéia de Ricercar (mais que uma fuga, uma demonstração dos vários usos possíveis de um tema), David sugere que toda Oferenda, na verdade, é um grande Ricercar. Ainda que essa idéia seja uma mera decorrência de seu caráter fractal (aspecto que passa ao largo da análise de David...), é uma sugestão criativa que vai muito além do "'lá vai, lá vai, lá vai, lá vem, lá vem, lá vem" da análise musicológica mais comum.

"Ainda assim, o uso da palavra é espantoso. Um ricercar, não importa quantas seções sejam incluídas, era uma composição, consistindo de vários movimentos conectados, enquanto a Oferenda Musical apresenta-se como uma série de 13 composições separadas. Mas para Bach a coerência entre as seções parece tão forte quanto a separação física entre elas; e assim ele pode se referir a toda obra (a sugestão está no acróstico) como um ricercar - indicando que ela existia em sua mente como se fosse uma composição em completa continuidade, um todo perfeitamente unificado" (pág 43).


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